terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Ensaio e erro, a menos quatro

Às cinco da manhã saio ao alpendre, a sondar a madrugada. O Platão aproveita a porta entreaberta e ensaia uma saída. Dobra uma esquina, não arrisca as ervas congeladas, dobra a outra. Eu reentro.
Depois lá foi o Sócrates. Aproveitou a abébia, esgueirou-se e saiu. Passou a grade e sumiu-se nas ervas. 
Eu desisto de os pastorear, reentro em casa, volto ao calor da cama.
Passada meia hora venho à porta: lá estão ambos, mirando a luz da sala, de rabo incomodado no mosaico frio. Mal reabro, esgueiram-se lá para dentro.
Se dois filósofos antigos preferem ensaio e erro, quem sou eu para questionar um tal princípio. E abandono as teorias modernas do chip incorporado, infalível e eficaz. Coisas que só entram na cabeça da América produtiva, quando pensa na função dum macaco pensante.
A mim bloqueou-se-me a caixa dos fusíveis, há muitos anos atrás, numa madrugada pelas ruas duma Berlim que já deixou de haver. Mas foram quase três horas, e estavam menos vinte. Até me congelaram os cabelos que ainda tinha!