domingo, 29 de setembro de 2013

As asas dos aviões

Nesse tempo havia muitas figueiras e uma vinha na encosta, que o Albertino e o Zé Sério e o homem da Ricardina estavam vivos, e podavam, descavavam, enxertavam... Não havia ali nada para guardar, mesmo se as uvas pintavam. Mas nós íamos guardar a vinha quando o Verão chegava, por troca dum banho lustral de liberdade. Agora já nada existe, e a cumeeira da corte há muito que desabou.
No riacho corria um fio de água que atraía os laparotos, e era o cachorro que nos ajudava a tirá-los pelas orelhas, das luras nas paredes, quando dormiam a sesta. 
Ao longe, num lameiro à raiz duns fraguedos, aflorava um veio de quartzites que rebrilhavam ao sol. E lá no meio apareciam cristais esverdeados, às vezes eram azuis, um minério a que alguém chamava brilo.
Nós guardávamos no bolso tão rara maravilha. Servia para fazer as asas dos aviões.