quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Nacional-quê?

Quando lho pediu a juventude inventou-se nacional-revolucionário, um rótulo que parecia cabalístico mas não tinha segredo nenhum. Era o mesmo que ser nacional-socialista, sem o fardo de o parecer. Aqui há tempos andou na televisão, a falar duma ficção recente sua, o retrato retocado dum professor de Finanças muito antigo.
Ponderou-lhe os predicados pitorescos, os cinismos de farsante, as artimanhas de frade. E alargou-se então no que chamou a sua grande inteligência patriótica. Sublinhou que o professor conduzira Portugal à glória dos eleitos. E considerou natural que, durante o seu governo, metade do país passasse fome, e outra metade fosse imolada numa guerra demente.
Achou bem que o país todo vivesse numa escuridão medieval, porque um povo é invencível se tiver a coragem de ser pobre. Isto mesmo decretara o professor. Já existir na Europa, em 1954, um campo de concentração para enjaular adversários políticos, e onde não mais que trinta portugueses foram levados à loucura e à morte, era para o nacional-revolucionário uma simples questão de equilíbrio do mundo.
Dizia ele estas coisas, assim em frente da câmara, sem levantar os olhos do soalho. É de se compreender. Desplantes deste calibre deixam vergonhas na cara, que um verniz ligeiro não disfarça. Tal como as mós de moinho penduradas ao pescoço, fazem peso na cabeça. Mesmo a um confuso nacional-revolucionário.