quarta-feira, 21 de maio de 2008

O bom indígena

Mal chega, o bom indígena encosta-se ao balcão. Dos correios, do talho, duma retrosaria.
Planta os cotovelos na bancada, e aconchega nos punhos a cabeça exaurida. Inclina-se para a frente e lá explica ao que vem, baralhando redundâncias.
É-lhe custosa a postura vertical, por isso ajeita o canastro a tudo quanto for sólido, como fazem as videiras de enforcado. De vez em quando muda de quadril de apoio.
Visto de trás parece um manipanso, seguro por arames. Mas trata o mundo de modo sobranceiro, por ter as cotas em dia com o manual da etiqueta. E é sempre muito senhor das suas cidadanias, era o que mais faltava!
Por vezes ganha uma vida inesperada, empina-se-lhe o ventre, compõe-se-lhe a figura. Mas é só para responder ao telemóvel basculante.