segunda-feira, 17 de abril de 2017

O palafreneiro

A casinha era singela, ali na rua, ainda não tinha o primeiro andar que depois veio, quando tudo isto cresceu. Tinha uma cozinha por onde o frio andava, só rendido a uma fogueira de lenha que a marquesa trazia da aldeia. Foi onde vivi aquele ano escolar, com a minha saudosa avó, em trânsito das minhas intimidades com o Cícero para o universo profano que me esperava cá fora.
O doutor, que morava ali ao lado, num casarão adossado à muralha, tinha num anexo um cavalo baio, que andava precisado dum palafreneiro. E eu vinha mesmo a calhar.
Foi o feitor quem lhe disse que eu sonhava noutras coisas, gostava muito de ler, havia de escrever livros.
O doutor achou que o mundo andava descarrilado e era a mais pura verdade. Porque o baio perdeu um palafreneiro para lhe apertar a cilha. E eu nunca fui escritor.