quinta-feira, 6 de abril de 2017

Kassinga

Em tempos que já lá vão cheguei à noite a Luanda, mas vivo. E os melhores médicos de que a pátria dispunha estavam lá e cumpriram o dichote. Fizeram o que podiam e mandaram-me esperar por um lugar na TAP que me trouxesse ao hospital de Lisboa. Lá fiquei dois meses à espera, porque não era lateiro. Adiante!
Ora um alferes que entrara de férias e dispunha dum pequeno Morris Mini tinha o pai no Sul de Angola, a trabalhar nos ferros de Kassinga. A distância era abismal. Mas isso nunca foi um problema sofrido por brancos naquelas terras. Convidou-me para o acompanhar e eu lá fui.
Até Nova Lisboa era alcatrão até perder de vista, sertões fora. Depois disso era uma picada reles, com pontes de paus que atravessavam rios, e sertões e pavimentos de areia. O Morris lá resistiu e nós também. Eu por mim foi só chegar e deitar-me. Passei vinte e quatro horas a dormir.
Lá ao longe havia um monte escuro, de minérios de ferro, e era Kassinga. Os catrapilos enchiam a pá e despejavam-na em vagonetas de bitola estreitíssima. Iam dali directamente para o Lobito, onde os barcos japoneses estavam à espera delas.
Do regresso à base do Negage não há crónica. Nem faz falta, que é rotina.