sexta-feira, 14 de novembro de 2014

PAC

Antes de haver as rotas que hoje existem, atravessava-se o Ribatejo, o Alto Alentejo e a Idanha pelas estradas nacionais. Via-se através delas um país que agora deixou de estar à vista.
Ainda me lembro das plantações de tabaco do Sorraia e do Ródão, do tomate e dos pêssegos de Montargil, e sobretudo da beterraba sacarina dos campos de Coruche. Produzia-se açúcar de cubinhos numa açucareira dessas, num cruzamento de estradas, igualzinho ao que se gasta para lá da fronteira e por essa Europa fora. Os campos conheciam o seu destino, os agricultores tinham trabalho e rendimento, a produção nacional tinha um papel.
Em 2006 as imposições da PAC e as cotas de sacarina encerraram a fábrica. Para protecção, claro está, da poderosa agro-indústria europeia, mormente a francesa. E a fábrica de Coruche só achou sobrevivência retrocedendo à refinação de ramas de cana de açúcar, produzidas por escravos muito antigos e importadas dum Caribe qualquer.
Serve este pormenor como exemplo da qualidade e ousadia das políticas agrícolas nacionais. Há muitos anos atrás, depois de constituída, o primeiro gesto da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) foi inventar as mocas de Rio Maior, dum tal Casqueiro. E o segundo foi construir uma sede de raiz, que ainda hoje lá está, por um milhão de contos dos de então. Pagos com apoios da PAC, ao que suponho!