sexta-feira, 11 de julho de 2014

E levanta-se o padeiro às quatro da manhã...

«No dia 26 de Fevereiro fomos a Viana do Castelo ao 2º Encontro de Tocadores de Concertina e Cantadores ao Desafio - antes tínhamos feito provisão de garrafas para a viagem e quando chegámos ao terminal rodoviário já íamos bêbados...
Eu devia levar Lisabeth a ver o povo português a cantar... E a beber... E a vomitar... Foi o que aconteceu...
O Lopes da Ariosa, um admirador fervente dos meus livros, tinha-me convidado...
Já nos esperava à saída do autocarro da Avic vomitado por uns tantos enjoaditos...
Levou-nos a um convento diante da Santa Luzia onde íamos dormir...
Dormir? Oh, meu Deus, não! Era impossível, já que nas paredes havia crucifixos, retratos de padres, santas com o Divino Coração nas mãos... Por todo o lado uma higiene santificada... Cheirava a comida leve... A cera nos corredores...
A religião sempre me excitou...
Foram quatro horas de seguida...
Lisabeth era inflamável, perene, infinita...
Depois, cansados, dormimos duas horas integrais...
De manhã, às sete, começámos outra vez a foder... Movidos pelo eterno tesão do mijo e pela fria estranheza do local de granito...
E de repente, vozes e mais vozes saem de todos os corredores... Que abafam os gritos de Lisabeth... É uma excursão de peregrinos... Que com toda a certeza nos ouviu durante a noite... E nós que pensávamos que estávamos sós... Deviam ter dormido duas horas integrais, os bichos!
Olho a saída e vejo que o nosso quarto não tem vidros por cima da porta...
- I hate parents! - diz Lisabeth passando pela décima vez o bâton vermelho pelos lábios.
Há um grande segredo em Lisabeth. Talvez maior que os olhos dos coelhos quando são agredidos no pescoço pelas mãos familiares...»

Andei ali a empacotar uns livros, e aqui fica, para que conste:
1 - A D. Quixote editou, em 2007:
2 - João Pedro George reviu;
3 - O autor tem numerosos inéditos e a sua ficção, como disse um dia Ernesto Sampaio, é uma brisa fresca na literatura portuguesa.
O que é que deu nesta gente da literatura?!
E pensarmos nós que existem, em Portugal, tantas matas para limpar...