segunda-feira, 28 de julho de 2014

A puta

O pescador tem seis canas espetadas na margem e espera que as carpas piquem. Dá-lhes a manhã inteira. Veio da Ucrânia, há muito tempo, hoje talvez não viesse. E já fala sem sotaque, um linguajar enfeitado de vernáculo.
Com uma filha, que ficou em Kiev, conversa todos os dias através da Internet. E mora numa aldeia da Serra da Estrela, mais a mulher que anda além, debaixo dos salgueiros, a recolher lagostins.
Hoje acordaram às cinco da manhã e vieram às trutas salmonadas. Ele ainda sugeriu que era melhor passar no Pingadoce de Gouveia, comprar um peixe e metê-lo no forno. Mas ficavam a perder uma manhã assim.
Esse russo do Putin é que não passa dum sacana que só quer a guerra, e até paga mil dólares aos independentistas. Yuri já mal se lembra de Chernobyl, e agora nem quer saber da frota do Mar Negro, nem lhe importa o gás que chega da Sibéria e passa no pipeline. O que ele queria era que houvesse paz, sem passageiros mortos em aviões abatidos. Só por causa do sacana do Putin.
Uma carpa enrolada no anzol põe aquela cana em sobressalto. Não era bem salmonada, mas escapuliu-se. Levou um beiço rasgado mas ficou-se a rir. A puta.