quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Boa pedra

Embora perfeitamente adequadas para apedrejar as matilhas da finança, as pedras parecem todas iguais mas não o são. Na alma, na cor e na textura. Com estas se desenham esculturas e lápides, daquelas se talham boas cantarias, aqueloutras mastigam-nas as máquinas para britas e gravilhas.
E foi à procura das pedras convenientes que estes homens vieram de Penafiel, uma lonjura onde fica a sede destas artes, para abrir uma pedreira aqui na serrania. Castaínço e Chozendo ficam longe, cá de cima avista-se Riodades e outros lugares igualmente visigodos. 
Passam a semana aqui, a desmontar rochedos nuns telheiros de folha, cobertos do pó da pedra, prisioneiros do grasnido raivoso dos picões pneumáticos. Sexta à tarde vão a casa, à segunda de manhã já estão aqui. E dentro duma semana chegam umas férias pequenas.
Há uns anos não tinham mãos a medir, por isso se aventuraram a tão longe, à procura da pedra conveniente. Mas agora a construção parou, as rotundas já estão feitas, e às obras públicas faltou o essencial. Dentro duma semana chegam umas férias pequenas, e o patrão talvez tenha que fechar.
Pelo sim, pelo não, encomendo umas carradas de rachão, para levantar uns muros. Algum sinal um homem deixará na paisagem, depois da vida que lhe tocou viver. Tanto melhor se for de boa pedra.