quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Recolher

Chegou a noite. E eu lá vou, calçada acima, a caminho de casa. Os toques ritmados do bastão encastoado que já foi dum almirante ressoam na canada. Veio-me parar à mão há muitos anos, este resquício duma história trágico-marítima. Andou atrás de mim e agora dá-me jeito, é o que sucede a quem guarda o que não presta.
Quando passo o pontão do ribeiro caem as primeiras gotas. Esparsas e desgarradas, andam suspensas no ar e não chegam a molhar. Isto enquanto passa lá por cima, a dez mil pés de altitude, um avião civil no corredor aéreo.
Vem-me à ideia o traste do passageiro, pobre dele, que se lembrou mesmo agora de usar à casa de banho. Rio-me da graçola estúpida, meto o livro na aba do casaco e acelero o passo. Embora saiba muito bem que é isso que merece a maior parte dos livros que nascem por aí como tortulhos. Logo veremos se também é o caso deste.