segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Tabaco avulso

Há cinquenta anos não havia dinheiro. Quer dizer, havia muito, mas não andava na rua. Certamente para evitar os maus olhados, e a gripe dos porcos, e a das aves, eu sei lá.
Saíamos do liceu, descíamos a ladeira do paço do bispo, e ao chegar à soleira da tasca do Zé Corno havia que descer ainda quatro degraus, até chegarmos ao balcão do estanco. Mesmo ao fundo da ladeira.
Por cinco tostões o homem dispensava três cigarros sem filtro, que tirava, um a um, do maço aberto. Três-Vintes, High-Life, Provisórios, às vezes Definitivos. Não era lá grande coisa, mas não havia dinheiro. E assim ganhava o Zé Corno e nós também.
Hoje dizem que prospera a venda de tabaco avulso. Quem fazia negócio era o Zé Corno, se ainda andasse por cá. Mas nós só ficamos a perder, ao descermos outra vez a ladeira.