terça-feira, 30 de agosto de 2016

Compte-rendu

Está visto, não aprecio espólios! Acumulei aí numas estantes uns milhares de volumes a que já não voltaria. Empacotei-os e dei-os. Nem me dei à trabalheira de os carregar. Trouxe apenas os que me seriam úteis.
Encontrei fotografias numa caixa. Emoldurei meia-dúzia, uma delas dum grupo que era um curso de pilotos.
Os dois primeiros morreram na Ota, onde íamos às quartas-feiras da nossa pré-história, fazer os primeiros voos. Um deles já era alferes miliciano, tinha umas centenas de horas, voava o Chipmunk muito bem. Tropeçaram nas neblinas duns fios de alta-tensão e não voltaram.
O Barbeitos foi mais tarde, no dinossauro dum T-33 da Ota, em fase mais avançada. O fogareiro apagou-se, havia sinais de fogo, o instrutor ordenou a ejecção. O pára-quedas é que não abriu. E o Barbeitos esmagou-se no solo, sentado numa cadeira que devia estar vazia.
O Pereira era ilhéu, já tinha milhares de horas de helicóptero e dava instrução em Tancos. Treinava aterragens em auto-rotação, ali à vista da torre. Mas foi-lhe passar por baixo um major que tinha pressa, e descolou mesmo do taxi-way. O ilhéu caiu-lhe em cima, tiraram-no lá de dentro era um torresmo.
Do grupo inteiro só um viveria o 25 A a pulmões cheios, com afterburner e pós-combustão. E mudanças de raiz. 
Hoje escreve quando lhe dá na gana, pois quem não tem história não existe. Os espólios dela é que se tornam pesados! Mas já tenho a horta à espera.