quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sebastianismo 5

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]No que diz respeito à figura do Bandarra, não há entorses significativas da história. Respeita-se que a sua primeira fase é messiânica, em resposta às aflições da população judaica refugiada em terras fronteiriças (os marranos), a qual buscava nas suas Concordâncias as promessas da vinda do Messias de que falava o Livro. Que só mais tarde aparecerão as versões sebastianista, providencialista e visionarices quejandas. Respeita-se que o Encoberto era essa figura a vir, e que surgiu originalmente em lendas castelhanas. Respeita-se que o Bandarra começou a fazer Trovas à maneira duns profetas da Castela fronteiriça. Admite-se implicitamente que o 2º corpo das Trovas é apócrifo, e afirma-se explicitamente que o 3º corpo não é da sua autoria. Já não é pouco!

E o que dizem estes farsantes bandarristas?!
«A obra de António Quadros sobre o sebastianismo (Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista), é uma das mais importantes exegeses sobre a origem, a história e a difusão internacional do movimento sebastianista publicada em Portugal na segunda metade do séc. XX segundo um sentido providencialista (...). Segundo o autor, "perante o traumatismo, perante a fractura, perante a inferioridade moral ou o conflito psíquico que são a derrota de Alcácer e o regime filipino", o português, activando uma projecção mental de carácter religioso, vê despertar no seu inconsciente os apelos da leitura da Bíblia pela qual o sofrimento pessoal é elevado à dignidade de sofrimento da colectividade a um nível mítico, consciencializando a necessidade de uma expiação histórica: as Trovas de Bandarra, fundadas em leituras da Bíblia velha, adequam-se ao estado de espírito pátrio, e o Desejado passa a Encoberto. (...) E conclui terem sido "António Vieira e muito mais tarde Fernando Pessoa" os ampliadores do sebastianismo ao mito do V Império das Trovas de Bandarra. (...)
Neste sentido, para António Quadros o movimento sebastianista, ainda que desprezado pelas elites racionalistas, de educação europeia, evidencia-se, a par da gesta dos Descobrimentos, como uma das mais importantes características da cultura portuguesa, identificando-a e singularizando-a. (...) António Quadros considera a existência dum pré-sebastianismo, anterior ao séc. XVII, isto é, de condições mentais e sociais propícias ao advento do movimento propriamente dito. (...) "Camões é o maior dos sebastianistas" (...) Impregnando o inconsciente colectivo português, contaminando-o de sonho e esperança, o sebastianismo será doravante cantado de um modo permanente pelos poetas, tematizado pelos dramaturgos,  e interrogado pelos pensadores, de Diogo de Teive a Natália Correia, de Gil Vicente a José Régio, do padre António Vieira a Fernando Pessoa. (...)
 António Quadros eleva a obra de António Sérgio a centro detractor da teoria sebastianista. Sérgio é estatuído como adversário frontal do sebastianismo. (...) Trata-se de compreender a diferença radical entre história positiva, fundada em factos e documentos, e mito, estrutura inconsciente da mentalidade dos povos, de que a poesia seria a intérprete mais correcta. (...) De facto António Sérgio, como qualquer historiador positivista ou empirista, alimentado exclusivamente de factos, não compreendeu a profundidade e a natureza do mito sebastianista. Considerou o mito sebastianista uma criação espúria à cultura portuguesa. "O messianismo português, originou-se não de uma psicologia da raça, mas sim de condições sociais semelhantes às dos judeus, reforçadas pelas ideias do messianismo dos judeus, e pela mentalidade dos eclesiásticos barrocos, educados na leitura dos profetas da Bíblia (...).O se]bastianismo não constituiria assim um sentimento histórico genuinamente português, mas apenas um fenómeno social e intelectual das elites, nomeadamente das ordens religiosas, especialmente dos jesuítas.»
Seguir-se-ão outras abencerragens.
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