sexta-feira, 19 de setembro de 2014

4º Andamento

E em Portugal?!
Em 2005, o primeiro governo de Sócrates herdou do PPD um défice de 7%, e uma dívida que rondava os 90% do PIB. Em 2007 estava em 2,9%. Em 2008 chega da América a maior crise financeira que o mundo vira desde há 80 anos, com o perigo de ruína do sistema bancário. O Lehman Brothers faliu. E a resposta das instâncias da União Europeia para enfrentar a situação foi no sentido das políticas contra-cíclicas, recomendando investimento público. Chegado tão atrasado ao progresso europeu do pós-guerra, Portugal ensaiava um salto notável nas frentes da Educação, da Saúde, das infra-estruturas, das novas tecnologias. Mas em 2009 e 2010 o défice voltou a subir.
A Grécia sucumbiu às agências de rating, aos especuladores do juro da dívida e às loucuras armamentistas. Pouco depois a Irlanda claudicou perante o estoiro bancário e a chegada da troika. E Sócrates, já no segundo governo em minoria, corrigiu o tiro e apresentou o PEC IV, depois de assegurar o aval da Europa. É claro que o PEC IV propunha restrições, contenções e cortes na despesa. O PEC IV era o mal menor, tantas vezes o último gesto inteligente e sensato. Os juros da dívida foram galopando, e as agências de rating fizeram o seu papel, que é conhecido.
Há seis anos que este Sócrates vinha sendo sujeito a uma campanha suja, sistemática e selvagem, de assassinato político e pessoal, nunca vista desde os tempos do marquês de Pombal, esse facínora. Moveram-na, ou associaram-se a ela, escroques refinados, fascistas pintados de fresco, diletantes cínicos, estalinistas confusos, idiotas úteis, iletrados básicos e taxistas bastantes. Nem a Presidência da República do inútil Cavaco se coibiu de participar activamente nela. E era este o momento oportuno para a Viradeira. Dirigido por escroques, por incompetentes, por cafres iletrados chegados dum sertão, era este o momento que o PPD aguardava para assaltar o poder, em conluio com o homem da Quinta da Coelha. Ao mesmo tempo que apagava do discurso a grave crise internacional, toda a direita berrava que já se fazia tarde para mandar entrar a troika. E ela trazia-lhe de facto o que faltava: a oportunidade de voltar ao poder, e um programa para “ajustar contas atrasadas” com o país que saíra de Abril.
Sócrates resistiu enquanto pôde e avisou. Mas o PEC IV foi recusado pelo parlamento, onde os demagogos da direita caceteira se misturaram alegremente com os demagogos da esquerda messiânica. Sócrates apresentou a demissão. E a cumplicidade oportunista do comité central e do BE levaram ao altar o Passos mais o Relvas. Pregava então a luminária Louçã que recusar o PEC IV era já iniciar a saída da crise!
Depois disso a direita ganhou as eleições, com enganos, com truques, com trapaças, e encurralou o povo na tragédia conhecida. O BE duns tantos aventureiros dissolveu-se em boas intenções. Um comité central estalinista, inútil e sectário, a viver no tempo das cavernas, ganhou cinco pontos no mercado eleitoral, alcançando plenamente os seus objectivos. Portugal retrocedeu algumas décadas. E as elites, as antigas e as modernas, fizeram estalar a rolha do champagne.